quinta-feira, 2 de julho de 2009

Sob a mesma condição.

Os ombros suportam o mundo


Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco."


(...)

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teu ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.


(Carlos Drummond de Andrade)



E ele disse por mim, o estado que se estende até onde for possível suportar, o colapso destrutivo e lento.

"Fazer-me abstrata em teu mundo"Avulsa, alheia e entorpecida.
Perdida entre os medos...e irracionalmente lúcida. Lúcida?E então não me convém, Je veux oublier. Je besoin de.


*Lendo "O Estrangeiro" - Albert Camus
Me acometo em defini-lo até o presente momento: a constatação, o que obviamentenão se vê, surpreendentemente absurdo.

2 comentários:

  1. Esse poema é maravilhoso, ainda que "maravilhoso" seja uma coisa boa e o tema abordado não é nada bom, mas enfim...

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