domingo, 2 de dezembro de 2012

Ela percebeu que antes mesmo de se aproximar de alguém, com qualquer vontade ou intenção, acaba se deparando com uma porção de histórias, com uma bagagem e um passado o qual ela jamais poderia imaginar, ela demorou a perceber, mas não quer mais se esquecer.

Prefere continuar a manter uma distância confortável, a distância que sempre manteve, só queria poder escapar da sensação que paira sobre a mente, anular o sensação de ser como uma folha de papel ocupado por muitos traços e rabiscos inacabados, ela queria poder anular o gosto amargo na boca, a dor pungente e o peito ardente cheio de vazio.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012


ontem, mês passado, ano passado, retrasado.

deparou-se com a certeza de que a sua volta,
nenhum se quer se afastou sem a ferir.

todos a magoaram, feriu o que era tão vital.


help me breathe
help me believe
you seem really glad that I am sad.
you are not my friend
i can't pretend that you are
you made it sting.




quantos suspiros são necessários
para exprimir incontáveis descontentamentos
e um punhado de raiva?

quantas vezes tenho que inspirar, respirar
e prosseguir? pra quê tanta tolerância?
porque tolerar tantas vezes tanta gente, de tantos
lugares? com laços ou não, me resta um nó na garganta
por não despejar tudo isso num grito.

emudeci, e por muitas vezes gritei, gritos altos e viscerais
que ecoavam no meu costumeiro silêncio. 

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

distraídos
dispersos
imersos na companhia da solidão.

no desencontro

no engano
com as mãos atadas
no espelho se apresenta à um reflexo que desconhece.

quinta-feira, 1 de março de 2012

A noite é sublime, o dia, belo.

[...]

Na calma quietude de uma noite de verão, quando a luz trêmula das estrelas rompe a escuridão da noite que abriga uma lua solitária, almas que possuem um sentimento do sublime serão pouco a pouco despertadas para o mais alto sentimento de amizade, de desprezo ao mundo, de eternidade.
O dia resplandescente infunde um fervor ativo e um sentimento de jovialidade. O sublime comove, o belo estimula . O rosto do homem que experimenta integralmente o sentimento do sublime é sério, por vezes rígido e perplexo. Em contrapartida, a intensa sensação do belo anuncia-se por uma irradiante satisfação nos olhos, por traços sorridentes e, frequentemente, por uma perceptível jovialidade. O sublime, por sua vez, possui outro feitio. Seu sentimento é por vezes acompanhado de certo assombro ou também de melancolia, em alguns casos apenas de uma calma admiração e, noutros, de uma beleza que atinge uma dimensão sublime.

[...]

Quando se aprecia demais a alguém, torna-se impossível amá-lo. Embora suscite admiração, está por demais acima de nós para que ousemos nos aproximar dele com a intimidade do amor .

(KANT, Emmanuel. 1764, Observações sobre o sentimento do belo e do sublime, p.22.)

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

"Il y a une fleur… je crois qu’elle m’aapprivoisé"


Tu não és ainda para mim senão um garoto igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu também não tens necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo.
– Começo a compreender – disse o pequeno príncipe. – Existe uma flor… eu creio que ela me cativou…

[...]

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Desordem.

Caro é transformar-se num arremedo de si próprio a ponto de nem se reconhecer mais
Hoje eu tenho 130 anos, isso não estava nos meus planos
Você sabe, a desordem é tenaz.

Tantos laços, tantas amarras
Os controles, pretensões
Nada adianta se o vento não soprar

Esse vento sob minhas asas,
Eu não mando mais em nada.
Sei que é alto, mas eu vou pular

O que todos vão dizer
E aonde vão chegar
Nem os olhos podem ver

Decidido, eu não volto pra casa
Ao lar, ao corpo e todas as palavras
Que a vontade, conseguir pensar.

Segue o vento sob minhas asas
Eu não mando mais em nada
Sei que é alto mas eu vou pular

O que todos vão dizer
E aonde vão chegar
Nem os olhos podem ver

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

sapato novo.


(...) - bem, como vai você? levo assim, calado
de lado do que sonhei um dia
como se a alegria recolhesse a mão
pra não me alcançar



deixa pra trás..


como se morrer fosse desaguar
derramar no céu, se purificar

deixa pra trás, sais e minerais.

evaporar.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Imergir.


Os cacos no jardim
Não vou tentar juntá-los
Melhor deixar o mar varrer

Navios dizem recomeço
Do mar ninguém chegou ao fim
Eu vou deixar seu nome imergir

Cartas, imergi-las
Fotos, imergi-las
Datas, imergi-las
Discos, imergi-los
Livros, imergi-los
Beijos, imergi-los
Rastros, imergi-los
Pro seu fim
Cansei de ser eu mesmo
Me deixa ser você
A vida não perdoa
Quem quer se reescrever


Cansei da minha rotina
Já não ouço o mesmo som
Cansei desse negócio de tentar ser bom

Cansei dos meus retratos
Da falsa sensação
De ter você por perto
E não seu coração


Cansei dos mesmos rostos

Dessa repetição

Me deixa ser o centro da sua distração

Cansei dos inquilinos

Da minha solidão

[...]

Cansei da velha idéia

[...]

Me entregue este controle
Me entregue a alma então
Amor você parece
Disco arranhado em vão
Pura repetição
Disco arranhado em vão
Pura repetição
Pura repetição


(Cansei - Silva)




terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

"Teus ombros suportam o mundo e ele não pesa mais que a mão de uma criança"



E hoje, esta noite, esta semana...essa frase fez e faz tanto sentido, eu estava no metrô e esse trecho gritando na minha mente, peguei a caneta, abri o caderno e de alguma forma tentei ilustrar...ok, talvez sem êxito. Talvez seja tanto doar-se sem nenhum consolo, é tanto sentir e nenhum conforto, talvez pouco conforto, no momento só as notas soando no piano me trazem alguma paz, eu pensei que estivesse imune à estas sensações, achei que toda esta inquietação já estivesse fora de questão, todo incômodo, toda a ausência de sentido...o perder-se sem razão alguma, ou por todas as razões que há no mundo. O querer dizer tanta coisa, mas não ter o que falar.

Estar perdida em todas as tuas convicções, querer se esvaziar de si mesma, uma transição dura, um desconstruir violento e sem cautela.

"Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco"

Achei ter superado, mas não...nem sei bem o que estou dizendo, só sei que há muita ausência.

Um cansar do óbvio, e o que é esta vida além do que se cansar do óbvio? Se cansar das falhas diárias e de toda incompreensão, todas as portas estão fechadas.
Aceitar a condição, dispensar a previsão.

Quanta capacidade desperdiçada, quanta lucidez, quanto abandono.

Eu tenho medo, estou com esse medo atravessado, uma angústia incessante, o medo de perder totalmente o que já foi se perdendo ao longo dos anos, lentamente, e ainda é vital, sempre será, toda a perturbação, e as relações conturbadas e mescladas entre si, sempre tão avessas e eu no meio da troca de tiros dentro de uma guerra entre os dois, uma guerra em que ambos emudeceram e as palavras não podem ser ditas, me usam como porta voz para gritarem todo esse silêncio sufocado pelo tempo. E eu como irei aguentar? Não sei.

A gente passa a vida toda construindo aquilo que se quer ser, absorvendo valores, objetivos e ideais, pra que em certo momento da vida você se depare com tudo o que pensa ser e queria simplesmente desconstruir, se não tudo, ao menos em parte, refazer o que já não acha tão relevante, justo, nobre.

Tá tudo muito pesado.

transição lenta, a dificuldade em negar a si mesmo, me aproximar outra vez, só queria ser sincera e mostrar todas as minhas dúvidas. Essa vontade de abandonar pra sempre o passado, e simplesmente me recusar a aceitar o descaso e as migalhas de atenção de quem mais uma vez eu me importo, e muito. Manter uma distância confortável de tudo isso, de todas estas pessoas, de todo o dedicar-se em vão. Me desprender, lidar com o fato de ter me cansado de quase tudo, eu só não consigo negar o que sinto. Mergulhar no que pode ser novo, tentar não ser óbvia, lidar com o inconstante. Desejar o desconhecido, querer vivenciar o improvável e acreditar nele há cada segundo, simplesmente porque faz com que eu me sinta viva de uma forma muito lúcida e clara e se tiver errado, posteriormente saberei.

A idéia e todos esses pensamentos podem me soar absurdos daqui há um mês, mas agora eu não posso e nem quero negar o quanto isso é nítido, o quanto é real. Eu não te conheço, e posso estar louca, mas o meu achar deve fazer algum sentido, ao menos ele já fez. Estou disposta a descobrir até que ponto podemos ir, aonde poderemos chegar. Eu sei que você também pode fazer com que eu descubra o caminho, mas não sem antes viver toda a intensidade de cada momento.

Não quero mais estruturas convencionais, só o sentir, não importa o quão desordenado ele seja.

"Eu posso estar maluca, mas você é mesmo interessante".

E eu quero mesmo que aquele sonho seja real, cada segundo dele.




terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Sem justificar.


Há muito não venho por aqui, há mais tempo do que posso calcular, e não falo em dias ou meses, falo da intenção. Bem, mas novamente me deparo com a necessidade de transcrever, ou sei lá, quem sabe traduzir um turbilhão de pensamentos e indagações.

"Não há falta na ausência. A ausência é um estar em mim"


Oh! Debussy, acalma minha mente inquieta. Clair de lune.