quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

"Il y a une fleur… je crois qu’elle m’aapprivoisé"


Tu não és ainda para mim senão um garoto igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu também não tens necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo.
– Começo a compreender – disse o pequeno príncipe. – Existe uma flor… eu creio que ela me cativou…

[...]

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Desordem.

Caro é transformar-se num arremedo de si próprio a ponto de nem se reconhecer mais
Hoje eu tenho 130 anos, isso não estava nos meus planos
Você sabe, a desordem é tenaz.

Tantos laços, tantas amarras
Os controles, pretensões
Nada adianta se o vento não soprar

Esse vento sob minhas asas,
Eu não mando mais em nada.
Sei que é alto, mas eu vou pular

O que todos vão dizer
E aonde vão chegar
Nem os olhos podem ver

Decidido, eu não volto pra casa
Ao lar, ao corpo e todas as palavras
Que a vontade, conseguir pensar.

Segue o vento sob minhas asas
Eu não mando mais em nada
Sei que é alto mas eu vou pular

O que todos vão dizer
E aonde vão chegar
Nem os olhos podem ver

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

sapato novo.


(...) - bem, como vai você? levo assim, calado
de lado do que sonhei um dia
como se a alegria recolhesse a mão
pra não me alcançar



deixa pra trás..


como se morrer fosse desaguar
derramar no céu, se purificar

deixa pra trás, sais e minerais.

evaporar.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Imergir.


Os cacos no jardim
Não vou tentar juntá-los
Melhor deixar o mar varrer

Navios dizem recomeço
Do mar ninguém chegou ao fim
Eu vou deixar seu nome imergir

Cartas, imergi-las
Fotos, imergi-las
Datas, imergi-las
Discos, imergi-los
Livros, imergi-los
Beijos, imergi-los
Rastros, imergi-los
Pro seu fim
Cansei de ser eu mesmo
Me deixa ser você
A vida não perdoa
Quem quer se reescrever


Cansei da minha rotina
Já não ouço o mesmo som
Cansei desse negócio de tentar ser bom

Cansei dos meus retratos
Da falsa sensação
De ter você por perto
E não seu coração


Cansei dos mesmos rostos

Dessa repetição

Me deixa ser o centro da sua distração

Cansei dos inquilinos

Da minha solidão

[...]

Cansei da velha idéia

[...]

Me entregue este controle
Me entregue a alma então
Amor você parece
Disco arranhado em vão
Pura repetição
Disco arranhado em vão
Pura repetição
Pura repetição


(Cansei - Silva)




terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

"Teus ombros suportam o mundo e ele não pesa mais que a mão de uma criança"



E hoje, esta noite, esta semana...essa frase fez e faz tanto sentido, eu estava no metrô e esse trecho gritando na minha mente, peguei a caneta, abri o caderno e de alguma forma tentei ilustrar...ok, talvez sem êxito. Talvez seja tanto doar-se sem nenhum consolo, é tanto sentir e nenhum conforto, talvez pouco conforto, no momento só as notas soando no piano me trazem alguma paz, eu pensei que estivesse imune à estas sensações, achei que toda esta inquietação já estivesse fora de questão, todo incômodo, toda a ausência de sentido...o perder-se sem razão alguma, ou por todas as razões que há no mundo. O querer dizer tanta coisa, mas não ter o que falar.

Estar perdida em todas as tuas convicções, querer se esvaziar de si mesma, uma transição dura, um desconstruir violento e sem cautela.

"Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco"

Achei ter superado, mas não...nem sei bem o que estou dizendo, só sei que há muita ausência.

Um cansar do óbvio, e o que é esta vida além do que se cansar do óbvio? Se cansar das falhas diárias e de toda incompreensão, todas as portas estão fechadas.
Aceitar a condição, dispensar a previsão.

Quanta capacidade desperdiçada, quanta lucidez, quanto abandono.

Eu tenho medo, estou com esse medo atravessado, uma angústia incessante, o medo de perder totalmente o que já foi se perdendo ao longo dos anos, lentamente, e ainda é vital, sempre será, toda a perturbação, e as relações conturbadas e mescladas entre si, sempre tão avessas e eu no meio da troca de tiros dentro de uma guerra entre os dois, uma guerra em que ambos emudeceram e as palavras não podem ser ditas, me usam como porta voz para gritarem todo esse silêncio sufocado pelo tempo. E eu como irei aguentar? Não sei.

A gente passa a vida toda construindo aquilo que se quer ser, absorvendo valores, objetivos e ideais, pra que em certo momento da vida você se depare com tudo o que pensa ser e queria simplesmente desconstruir, se não tudo, ao menos em parte, refazer o que já não acha tão relevante, justo, nobre.

Tá tudo muito pesado.

transição lenta, a dificuldade em negar a si mesmo, me aproximar outra vez, só queria ser sincera e mostrar todas as minhas dúvidas. Essa vontade de abandonar pra sempre o passado, e simplesmente me recusar a aceitar o descaso e as migalhas de atenção de quem mais uma vez eu me importo, e muito. Manter uma distância confortável de tudo isso, de todas estas pessoas, de todo o dedicar-se em vão. Me desprender, lidar com o fato de ter me cansado de quase tudo, eu só não consigo negar o que sinto. Mergulhar no que pode ser novo, tentar não ser óbvia, lidar com o inconstante. Desejar o desconhecido, querer vivenciar o improvável e acreditar nele há cada segundo, simplesmente porque faz com que eu me sinta viva de uma forma muito lúcida e clara e se tiver errado, posteriormente saberei.

A idéia e todos esses pensamentos podem me soar absurdos daqui há um mês, mas agora eu não posso e nem quero negar o quanto isso é nítido, o quanto é real. Eu não te conheço, e posso estar louca, mas o meu achar deve fazer algum sentido, ao menos ele já fez. Estou disposta a descobrir até que ponto podemos ir, aonde poderemos chegar. Eu sei que você também pode fazer com que eu descubra o caminho, mas não sem antes viver toda a intensidade de cada momento.

Não quero mais estruturas convencionais, só o sentir, não importa o quão desordenado ele seja.

"Eu posso estar maluca, mas você é mesmo interessante".

E eu quero mesmo que aquele sonho seja real, cada segundo dele.




terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Sem justificar.


Há muito não venho por aqui, há mais tempo do que posso calcular, e não falo em dias ou meses, falo da intenção. Bem, mas novamente me deparo com a necessidade de transcrever, ou sei lá, quem sabe traduzir um turbilhão de pensamentos e indagações.

"Não há falta na ausência. A ausência é um estar em mim"


Oh! Debussy, acalma minha mente inquieta. Clair de lune.